segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O mundo é muito jovem para entender


Vejo nos olhos desses meninos o mesmo alegre terror que enxergo em nós mesmos. Uma expectativa indomável por razões tão iguais e tão distintas. E me pego a lembrar de todos esses anos, todos os últimos dias de aula em que rimos, cantamos e choramos. Eu me recordo de cada lágrima. Chorávamos pela emoção de mais um ano vivendo 200 dias letivos ao lado das mesmas pessoas, ou pelo alívio de mais uma missão cumprida. Enquanto nossos corações choravam pela ideia mais simples e inocente de adeus.

Escrever em tão poucas linhas algo significante o suficiente para que represente todo esse emaranhado de instantes que vivemos naqueles corredores soa quase impossível. A verdade é que hoje eu torno verbal o silencio das entrelinhas de cada diálogo, cada palavra de motivação e apoio, cada segredo, cada sentimento compartilhado. Vivemos sim o tempo de uma vida juntos, o tempo de nossas vidas. E deixamos mais do que nossos grupos de estudo e feiras impecáveis. Deixamos mais do que toda a saudade do mundo. Em 2014, nossa missão cumprida foi nosso próprio legado. E que ele seja mais do que uma lembrança, pois há sempre mais para crer e mais para ser.

Que fique a educação do bater da porta antes de sair da sala (aconteceu mesmo), o arrependimento e perdão pelos vidros quebrados, o carinho do ultrapassar dos limites éticos, a coletividade dos galões de água (também aconteceu), a coragem dos cortes de cabelo dos quais vamos nos arrepender em alguns anos, e todas outras peculiaridades que amanhã talvez esqueçamos, mas que hoje são tão vívidas quanto a alegria de serem recordadas. Que fiquem os melhores e piores amigos, acima de tudo, unidos pela discórdia e fortes nas diferenças.

Independente do meu futuro, não vou esquecer da pessoa que fui essa noite. Como oradora, faço das minhas palavras muito mais que uma oratória, mas minha e nossa oração. Que não se esqueçam também das pessoas que vocês foram enquanto estiveram sentados nessas cadeiras. Isso é tão importante quanto seu nome numa lista. Nós podemos crescer, quebrar promessas, reconstruir planos, sonhar novos sonhos… Podemos nos tornar pessoas diferentes ao longo de nossas vidas, mas jamais podemos esquecer das pessoas que um dia já fomos. Pois, no final das contas, o mundo que é muito jovem pra entender.

Repetindo meu agradecimento por aqui, quase dois anos depois: amigos, obrigada por escolherem fazer das minhas palavras as suas. Guardo vocês no lugar que uma vez foi delas em meu coração.
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