segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Eu escreveria sobre você

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Eu escreveria sobre você mesmo que meu coração estivesse cansado e eu já não mais encontrasse sentido nas palavras. Ainda que eu não pudesse te ver entre montanhas, e ondas, e sonhos, e olhares, eu escreveria sobre você. Escreveria sobre você como escrevo sobre as coisas que não compreendo, com o mesmo fôlego das tentativas que desperdicei por medo de sentir. Escreveria como se não existisse tempo e espaço, como se não existisse o mundo, como se não existisse você, como se eu não existisse.

Porque o desencontro é meu caminho até você. Quando não sei por quê estou andando, ando em sua direção. Te assisto correr, chover, e desaguar até que eu me desmanche. Deixo que me arraste até onde prometi jamais voltar. Peço que pare na estrada mais alta, atrás da neblina, atrás da pressa, atrás de mim. E permito que me leve até o fim do mundo, até o fim de tudo, mas que não me diga para voltar. Afinal, eu ainda escreveria sobre você.

Escreveria sobre seus traços como se fossem rochas e seus braços como se fossem mar. Eu escreveria sobre você nas folhas brancas e verdes. Escreveria ainda que fosse maior que o mundo e inalcançável na palma de minhas mãos. Eu escreveria sobre você. Seu nome à lápis e sua alma à caneta, abaixo dos meus pés e acima dos céus.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Workshop de Colaboração e Compartilhamento




Falar dos workshops da Casa do Presente já se tornou uma coisa muito pessoal para mim, e poucas palavras são fortes o suficiente para significar os sentimentos que venho descobrindo ao longo de nossos encontros. Nesse último sábado nos unimos em uma rede de corações abertos para conversar a respeito de dois temas extremamente presentes em nossas experiências diárias: Colaboração e Compartilhamento.

O ar frio daquele sábado à tarde me abraçava como um sopro reconfortante. Tomada por uma energia indescritível, meus olhos enxeram d’água antes mesmo de nos unirmos em círculo ali no estacionamento vazio da Hilo Coworking. As coisas separadas que já não faziam mais sentido algum aos poucos se fizeram um só todo, uma só verdade. Eu não saberia escrever sobre esse dia se antes o Gustavo Tanaka não tivesse verbalizado alguns dos meus sentimentos em um de seus textos como sempre faz.


A razão para eu ter pulado o relato de um de nossos encontros para escrever antecipadamente sobre o último sábado foram esses sentimentos ainda latentes. Naquela tarde, assim que coloquei meus pés diante do Gustavo minutos antes do workshop começar, fui tomada por toda a emoção que me cercava desde que dei início dentro desse projeto maravilhoso e conheci a Maria Lujan, idealizadora do sonho que é uma realidade pulsante em nossas vidas. Aconteceu que, anos atrás, eu descobria um dos textos do Gustavo de frente para o mesmo computador de onde escrevo agora. Quem diabos era aquele cara?

“Você não está sozinho nessa. Você não é o único.
Você não é louco e nem um extraterrestre.”
 Trecho do último texto do Gustavo.

Aquela foi a primeira vez que eu senti que alguém conversava diretamente comigo, alguém que compreendia como eu me sentia vivendo no mesmo mundo que eu. Uma das primeiras pessoas que me provaram possível ser aquilo que eu acreditava que era a única versão verdadeira de mim mesma. Finalmente ser verdadeiro era uma opção. Não me submeter ao ritmo do mundo e às expectativas de outras pessoas era uma opção. Era a opção que eu queria. E todas as escolhas que fiz dali para frente guiada por aquela faísca de pertencimento acabaram me levando até aqui.



Inspirada pela história e mensagem do Thiago Berto, que confirmavam a possibilidade de um mundo que expressasse aquela verdade latente dentro de mim, me inscrevi no Hackathon de Educação afim de escutá-lo pessoalmente. Não podia ser uma coincidência encontrar o Gustavo ali no mesmo lugar. No início eu duvidei, mas sim, era o cara. Os dois caras ali! E desde aquele dia acumulei uma imensidão dentro de mim, que só me cobrou algumas lágrimas essa semana ao me reencontrar com os dois no terceiro workshop da Casa do Presente.


Falar de Colaboração e Compartilhamento é também falar da Casa do Presente. É falar de nós como grupo, como indivíduos, como seres humanos, e trabalhar juntos para que sejamos, mesmo que separados, uma só coisa: a manifestação do mundo que precisamos agora, e que construímos para o presente. Esse mundo no qual o Gustavo me fez acreditar anos atrás, e que hoje é muito mais do que só uma possibilidade na minha vida. Um mundo do qual eu sou parte, me sinto parte e quero fazer parte.

Gratidão por todos que acreditaram nessa loucura linda que inspira e dá sentido aos sonhos de todos esses jovens que, como eu, se descobriram parte de algo muito maior e mágico quando conheceram a Casa do Presente. Estamos juntos por uma razão que foge do nosso entendimento, e tudo bem. Porque, como a Maria disse, nossos corações sabem mais do que as nossas mentes. Vamos nos descobrir juntos daqui pra frente! ♥

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Workshop de Alimentação com Lis Cereja


Pé descalço na grama redescobrindo e re-significando o andar enquanto derrapa na terra; caules de folhas cortados com as mesmas mãos fracas que picam cebolas e tomates e abacates, procurando um jeito de tornar produtivo a tarefa que só requer ser sentida. Não é linda a liberdade que vivenciamos perto das coisas que não podemos controlar? E raras são as oportunidades que encontrei até hoje para apreciar essa beleza daqui do topo da cidade.

No último sábado (15 de outubro) a Casa do Presente organizou um workshop de Alimentação com a maravilhosa da Lis Cereja lá em Granja Viana. Foi o belo dia em que afundei meu pé na lama colhendo folhas de couve, tomei um leite docinho de cabra, experimentei semente de cacau, comi a melhor beterraba do mundo e refleti sobre a quantidade absurda de coisas que nos fazem acreditar que é impossível.

São impressionantes os reflexos sociológicos da nossa relação com os processos da natureza: a maneira como lidamos com o tempo, como manipulamos tudo que é verdadeiro para saciar nossa necessidade de controle, padronizando a natureza de todas as coisas — inclusive a nossa — e combatendo contra tudo que é inconstante e impermanente. A gente aprendeu a depender do controle, da estabilidade, das regras, das fórmulas. E permitir que a natureza seja o que ela é também é nos permitir.

Aprendi que a alimentação saudável é, acima de tudo, conexão.

Nos conectamos com a memória dos nossos ancestrais, com a história da nossa relação com o alimento, com a natureza do nosso corpo e a natureza fora dele, e com os processos que transcendem a nossa compreensão. Nos alimentamos de todos esses processos, nos alimentamos do trabalho no cuidado com o alimento e de toda energia que é colocada no seu cultivo. Plantar e produzir nosso próprio alimento é gerar vida, e nós nos alimentamos da vida que ali colocamos.




Se eu verbalizasse absolutamente tudo o que aprendi com a Lis cometeria o erro de diminuir toda a experiência na tentativa de alcançar um tipo de beleza que só pode ser sentida. O prazer da alimentação saudável vai além do sabor e das texturas, está no sentimento. Afinal, nos alimentar é um gesto de amor a nós mesmos e a tudo que nos cerca.

Lis, obrigada por compartilhar com a gente tudo o que a natureza te ensinou. ♥

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Casa do Presente no Google Brasil

Posso jurar que nem nos meus delírios de sonhadora eu imaginei esse dia. O dia em que eu conheceria o Google Brasil e falaria com um público sensacional sobre o que eu sempre acreditei. 2016 me faz a cada dia mais grata pelo instante em que decidi ser mais honesta com o que eu queria para mim e para o mundo. Eu consigo finalmente ver toda essa verdade e o amor que vem com ela se manifestando na minha vida, e sinto a mais vívida gratidão por todos os meus novos amigos e parceiros fazerem parte de tudo isso.

27 de setembro aconteceu a inauguração da Casa do Presente, a escola co-criada por alunos (nós!). O evento reuniu uma porção de gente inspiradora para apresentar o propósito da nossa Casa e mobilizar um novo jeito de fazer educação. Eu tive a felicidade de ser uma das representantes e me expressar a respeito de tudo que viemos debatendo desde o Hackathon de Educação da Casa do Presente ao longo do processo de co-criação.

Nossa missão não tem como objetivo criar uma educação revolucionária, mas sim inspirar alternativas, caminhos, movimento. Muitas destas alternativas já são vivenciadas por meio de projetos diferentes espalhados pelo mundo, e a Casa do Presente é parte significante dessa energia que vem sendo movimentada. Pudemos relevar tudo o que a nossa escola já é, afim de explorar juntos tudo o que ela ainda pode se tornar. 

“Não se pode falar de educação sem amor.” 
Paulo Freire


No evento, além de compartilharmos nossa experiência pessoal na idealização da escola, falamos de seus valores, apresentamos seus principais conteúdos e abrimos espaço para a manifestação de um público riquíssimo, dentro do qual ganhou voz uma diversidade louvável de projetos dentro da área. Foi um prazer indescritível conversar com algumas das pessoas que fizeram deste dia mais especial. Em uma realidade em que somos inseridos desde pequeninos em um modelo fundamentado na doutrinação, acabamos nos tornando os loucos por acreditar no ser. E a loucura nunca foi tão elucidante!

Maior do que a alegria de um sonho que se torna realidade, é um sonho que se realiza depois de ser sonhado ao lado de pessoas que a gente admira tanto quanto o resultado. Eu ganhei um lar pelo qual nunca pedi, porque não sabia que era possível. A Casa do Presente me fez acreditar na educação, nas pessoas e no presente. Acabei me dando conta muito cedo de que meus sonhos são mais reais do que tudo que já vivi.

Eu aprendi que somos capaz de qualquer coisa. Eu aprendi que é possível chegar nos lugares incríveis que queremos fazendo aquilo que executamos com simplicidade e amor, não importa o que for. Eu aprendi que estamos constantemente a um passo de quem nós gostaríamos de ser, e que um lampejo de intuição pode te levar a destinos surpreendentes. Eu aprendi que não estamos sozinhos. Aprendi que podem existir diversos mundos dentro de um mesmo planeta, e eu conheço um dos mais lindos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Hackathon de Educação da Casa do Presente

Enquanto relembro um dos dias mais especiais que vivi, fotografia por fotografia, sou tomada por uma estranha (e maravilhosa) sensação de que ainda estou lá. Sentada no deck do quintal da Agência Tudo em um dia chuvoso, num turbilhão de ansiedade; conversando com os jovens mais incríveis que tive a oportunidade de conhecer, e trocando sentimentos com pessoas que acreditam no mesmo mundo que eu. O Hackathon de Educação da Casa do Presente {20/08} foi a experiência mais rica dos meus dezenove anos (que não são poucos). E é por isso que decidi compartilhar um pedaço dela aqui no blog.

Para quem não sabe, hackathon é “um evento que reúne programadores, designers e outros profissionais ligados ao desenvolvimento de software para uma maratona de programação, cujo objetivo é desenvolver um software que atenda a um fim específico ou projetos livres que sejam inovadores e utilizáveis”. O Hackathon de Educação da Casa do Presente reuniu um grupo considerável de estudantes de 14–19 anos com o propósito de ouvir o que os jovens têm a dizer a respeito do atual modelo educacional. Ao lado de nossos facilitadores dividimos um sábado inteiro de atividades com um só objetivo:

HACKEAR A ESCOLA


Conhecemos as histórias e projetos de especialistas em diversas áreas, como música, publicidade e educação, entre eles Gustavo Tanaka, Cleber Paradela e Elena Crescia. (Ainda quero escrever sobre os projetos que conheci lá, porque o time todo é incrível). Juntos compartilhamos frustrações e ambições baseadas em nossas experiências anteriores, inspirando a discussão de potenciais mudanças aliadas à questões como empatia, sustentabilidade e representatividade. Quebramos as barreiras que nos diferenciariam fora daquele quintal afim de co-criar um novo jeito de fazer educação.

Há quem diga que a nossa pauta seja uma fantasia, e eu só tenho a argumentar que, se assim for, eu devo ser um pônei, então. E que ótimo. Nós permitimos que ali se manifestasse a nossa verdadeira vocação, a de sentir mais e ser mais. Eu confio na magia que todos nós presenciamos naquele dia. O mundo em que eu acredito é feito de pessoas, e estou certa de que conheci uma parte significativa delas nesse evento. Somos todos idealizadores, transformadores, alunos e professores em unidade. E talvez eu seja pequena demais para o tamanho da minha gratidão pelo chamado que me levou de encontro às pessoas maravilhosas com que me conectei.


O Hackathon da Casa do Presente me colocou em frequência comigo mesma e com um universo sem limites para tudo, inclusive para mim. Como me disse no mesmo quintal o Thiago Ami, idealizador da Cidade-Escola Ayni, “tudo já é”. Desde então, eu aprendo todos os dias com essas palavras, e quanto mais me aproximo delas, mais gratidão eu sinto. As trocas genuínas de olhares, sorrisos, abraços e palavras construíram a essência de um dia inteiro, movimentando uma energia formidável. E quando revivo aqueles momentos, essa energia toma conta de mim como se fosse a primeira vez, como se fosse agora.

Trago comigo a certeza de que é assim que quero me sentir pelo resto da minha vida. ♥

Fotografias por EFFE4.
Conheçam a Casa do Presente.
Leiam também o depoimento do Renato Maciel.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O mundo é muito jovem para entender


Vejo nos olhos desses meninos o mesmo alegre terror que enxergo em nós mesmos. Uma expectativa indomável por razões tão iguais e tão distintas. E me pego a lembrar de todos esses anos, todos os últimos dias de aula em que rimos, cantamos e choramos. Eu me recordo de cada lágrima. Chorávamos pela emoção de mais um ano vivendo 200 dias letivos ao lado das mesmas pessoas, ou pelo alívio de mais uma missão cumprida. Enquanto nossos corações choravam pela ideia mais simples e inocente de adeus.

Escrever em tão poucas linhas algo significante o suficiente para que represente todo esse emaranhado de instantes que vivemos naqueles corredores soa quase impossível. A verdade é que hoje eu torno verbal o silencio das entrelinhas de cada diálogo, cada palavra de motivação e apoio, cada segredo, cada sentimento compartilhado. Vivemos sim o tempo de uma vida juntos, o tempo de nossas vidas. E deixamos mais do que nossos grupos de estudo e feiras impecáveis. Deixamos mais do que toda a saudade do mundo. Em 2014, nossa missão cumprida foi nosso próprio legado. E que ele seja mais do que uma lembrança, pois há sempre mais para crer e mais para ser.

Que fique a educação do bater da porta antes de sair da sala (aconteceu mesmo), o arrependimento e perdão pelos vidros quebrados, o carinho do ultrapassar dos limites éticos, a coletividade dos galões de água (também aconteceu), a coragem dos cortes de cabelo dos quais vamos nos arrepender em alguns anos, e todas outras peculiaridades que amanhã talvez esqueçamos, mas que hoje são tão vívidas quanto a alegria de serem recordadas. Que fiquem os melhores e piores amigos, acima de tudo, unidos pela discórdia e fortes nas diferenças.

Independente do meu futuro, não vou esquecer da pessoa que fui essa noite. Como oradora, faço das minhas palavras muito mais que uma oratória, mas minha e nossa oração. Que não se esqueçam também das pessoas que vocês foram enquanto estiveram sentados nessas cadeiras. Isso é tão importante quanto seu nome numa lista. Nós podemos crescer, quebrar promessas, reconstruir planos, sonhar novos sonhos… Podemos nos tornar pessoas diferentes ao longo de nossas vidas, mas jamais podemos esquecer das pessoas que um dia já fomos. Pois, no final das contas, o mundo que é muito jovem pra entender.

Repetindo meu agradecimento por aqui, quase dois anos depois: amigos, obrigada por escolherem fazer das minhas palavras as suas. Guardo vocês no lugar que uma vez foi delas em meu coração.
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