quarta-feira, 17 de maio de 2017

Arte é rua: é não entender, mas sentir



Eu estava atrás de um livro sobre criatividade, e descobri um closet. Um retângulo cercado por paredes de vidro e prateleiras de livros pesadíssimos sobre arte, design, arquitetura e ensaios fotográficos. Um quadro aqui, um quadro lá. A tal seção da livraria para artistas e criativos. Era a minha sessão. Pelo menos era para parecer que era, mas quando olhei em volta, não consegui me enxergar

Aquilo tudo caiu no meu estômago como uma pedra. Se era para aquele espaço ser qualquer coisa diferente de uma exposição da obra de semideuses inalcançáveis, não dava para dizer. Era tudo exageradamente sofisticado, quase intocável. E destoava da arte que se via e se tocava logo ali, porta da livraria afora. A arte que todos nós somos.

Arte é rua.     Arte é gente.     Arte é popular.

Eu quero é ver gente que faz boomerang no Instagram apreciando fotografias profissionais de montanhas. Quero ver gente que não sabe nem soletrar “semiótica” folheando livros de design. Quero ver gente encarando Monet pela primeira vez na vida, ou lendo sobre arquitetura urbana porque esbarrou naquele canto sem querer. Quero ver gente falando de arte sem entender dela, porque arte é isso. Arte é não entender. É a busca por uma linguagem que possa dar sentido ao caos organizado. Arte é sentir.

Arte é resistência.   Arte é causa.     Arte é meio.

Separa-se a arte do mundo como se o mundo não fosse arte ou a própria arte não fosse mundo. Mas, o que é arte para você? Para mim, não tem nada a ver com uma sala fechada. Dentro daquela caixa, me senti um palito. Até lembrar que sou fósforo — faísca de um incêndio que não caberia ali.

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